sexta-feira, março 02, 2007

Blindado contra os fatos

Copiado do blog do Reinaldo Azevedo - Quinta-feira, Março 01, 2007
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva concedeu uma entrevista a 11 jornalistas hoje. Segue, abaixo, em azul, o texto de Luiz Rila, no Estadão On Line. Faço comentários em vermelho.


No momento em que os mercados financeiros passam por turbulência e a política monetária conduzida pelo Banco Central enfrenta críticas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assegurou que não haverá mudanças na equipe econômica do governo. "A área econômica está blindada pelo sucesso dela”, disse ele nesta quinta-feira, 1º.
Mesmo sem citar o nome de nenhum integrante do primeiro escalão, Lula deixou claro que serão mantidos o presidente do BC, Henrique Meirelles, e os ministros da Fazenda, Guido Mantega, e do Planejamento, Paulo Bernardo.
A afirmação foi feita durante café da manhã no Palácio do Planalto com um grupo de 11 jornalistas. Ao longo do encontro, o presidente descartou a possibilidade de disputar um terceiro mandato, confirmou não ter pressa em realizar a aguardada reforma ministerial e disse que a Petrobras deve atuar para garantir o abastecimento de um futuro mercado global de biocombustível.
Confira os principais pontos da conversa:


Política econômica - Ao confirmar a permanência da equipe econômica, o presidente afirmou que o País vive uma fase especial. "Desde a proclamação da República, os fundamentos da economia não estavam tão sólidos", avaliou, apontando o elevado nível de reservas do Brasil como uma garantia para resistir às oscilações dos mercados financeiros.
Lula lembrou de uma viagem à Índia, na qual ficou admirado ao saber que as reservas daquele país eram de US$ 100 bilhões. "Fiquei pensando: será que algum dia teremos US$ 100 bilhões?", recordou. "Taí, nossas reservas agora estão em US$ 100 bilhões. Isso é uma conquista."


Lula começou o primeiro mandato se dizendo melhor do que FHC. Depois avançou para Getúlio Vargas. Aí elegeu Juscelino e o regime militar. Agora, já é um evento único na história da República. Nem parece que é o chefe de uma gestão que produziu uma média de crescimento de 2,6% no primeiro mandato. O caso da reservas é um bom exemplo. Precisamos de US$ 100 bilhões, de R$ 150 bilhões ou de US$ 200 bilhões? A questão é saber a que custo. Lula faz de conta que o Brasil está estocando dólares como quem guarda ouro na caixa forte do Tio Patinhas.




Responsabilidade econômica - O presidente repetiu que não há "solução mágica" para destravar o País e considerou superados os tempos em que a política econômica sofria periodicamente guinadas bruscas. "Durante décadas, fomos irresponsáveis. Agora não custa nada sermos responsáveis por pelo menos uma década", disse. "Sou eu que me exponho e ninguém mais do que eu quer andar de cabeça erguida pelo mundo. O Brasil começa a ser visto como um país sério. Estamos a um fio de chegar lá."


Eis aí. Tudo o que se fez até agora na economia foi irresponsabilidade — desde a Proclamação da República. É um discurso indecente. Lula está dizendo, por exemplo, que o Plano Real — aquele que, de fato, eliminou a inflação que estava estruturalmente colada à economia — não foi obra sua, mas... de FHC. Se o PT fosse ouvido, ao contrário, não existiria o Real. O partido foi contra. Este mesmo que fala já se referiu a seu próprio discurso de então como "bravata". Esses cafés da manhã viram convescotes para o presidente falar o que lhe dá na telha sem chance de ser contestado. A culpa não é dos jornalistas, claro, que só cumprem a sua função. Têm de ir lá ouvir. Fazer o quê?




Crescimento do PIB - Indagado sobre o crescimento de apenas 2,9% do Produto Interno Bruto (PIB) registrado no ano passado, o presidente admitiu novamente que o desempenho foi aquém do que ele desejava. Mesmo assim, assegurou que o País está no rumo certo.
Lembrou que o desenvolvimento do Brasil foi bem mais acelerado em pelo menos dois períodos - durante o governo JK e ao longo do regime militar. "Mas não houve distribuição de renda", frisou. "Agora as bases sociais estão colocadas para um crescimento com mais responsabilidade social."




Essa conversa de distribuição de renda é uma cascata, mas cola, dada a mediocridade do debate brasileiro. A maior redistribuição de renda havida no Brasil foi o fim da inflação. A fantástica classe média criada no Brasil durante o regime militar foi ou não redistribuição de renda?


Gastos públicos - Lula reafirmou a intenção de, em seu segundo mandato, ampliar as despesas do governo, porém garantiu que não fará isso de forma irresponsável: "Não vou gastar mais, vou investir mais."Ele propôs uma comparação para deixar clara a distância entre as duas atitudes: é a mesma diferença entre pagar aluguel e comprar a casa própria. "No começo da vida, eu alugava uma casinha no Moinho Velho, lá em São Paulo. Pagava algo como R$ 100 e esses R$ 100 não voltavam mais", contou. "Depois, consegui um dinheiro e comprei uma coisinha no Parque Bristol. Foi investimento numa coisa minha."


Ah, eu não vou comentar isso, não. Não tenho nada a dizer a respeito. Prefiro Lula falando de pingüins.



Terceiro mandato - A uma pergunta sobre a possibilidade de disputar um terceiro mandato em 2010, Lula reagiu: "É muito improvável. É inexeqüível." Os jornalistas insistiram: "É improvável, mas não impossível?" O presidente foi, então, mais categórico: "Coloquem que é impossível. Seria brincar com a democracia. Não tem hipótese. Disputei dentro das regras e vou respeitar as regras."
Lula apontou como seu objetivo político "terminar o segundo mandato em condições melhores do que o primeiro e ter influência na eleição de um companheiro". Fechou o raciocínio com um comentário que pareceu uma estocada no antecessor, Fernando Henrique Cardoso, que em 2002 teve presença escassa na campanha do candidato do PSDB ao Planalto, José Serra: "Nada pior para um político do que ver que seus pares não querem vê-lo em cima do palanque."




Huuummm. O que foi feito da palavra "Não"? A referência velada a FHC é manifestação do que considero a delinqüência intelectual habitual.


Reforma ministerial - Não há pressa para realizar a aguardada reforma ministerial, confirmou Lula, lembrando não ter conversado ainda com o presidente do PT, Ricardo Berzoini. "Vou conversar no sábado, no domingo, qualquer dia desses", disse. "Nunca estive numa situação tão favorável. Não há pressão. Estou à vontade."De acordo com o presidente, seus aliados compreendem que é preciso haver espaço para todas as forças que apóiam o governo. "Eles podem pedir o que quiserem, mas sabem que a última palavra tem que ser do presidente, com base no interesse do País", garantiu.


Tá, tá...



Segundo mandato - O presidente insistiu que se julga agora, no segundo mandato, numa situação mais confortável do que antes. "Sinto uma boa vontade que não senti durante o primeiro mandato", avaliou.Ele admitiu ter ficado contrariado com o fato de as eleições de 2006 terem sido definidas apenas no segundo turno, porém diz haver concluído que esse fato foi "uma dádiva de Deus", por ter permitido a aglutinação de forças antes dispersas. "Há casos de gente que trabalhou contra que acabou ficando a meu favor."


Mais boa vontade, é? De quem? Lula é injusto, como sempre. Jamais um presidente foi recebido com tanta bonomia pela mídia e, sobretudo, pelas forças adversárias. Ele sabe que a reputação de seu governo, no primeiro mandato, foi para o lixo por causa das evidências de corrupção. E se recuperou, é fato. Nunca houve má vontade. Ao contrário. Lula costuma se protegido de si mesmo. É como se fosse inimputável.



Segurança pública - Na avaliação do presidente, não há solução fácil para reduzir os altos índices de violência do País e, por isso, o poder público não deve tomar decisões com base em impulsos motivados pelas tragédias que vêm ocupando o noticiário. "O ser humano pode agir emocionalmente e ter o desejo de descarregar uma arma na cabeça de quem pratica certas barbaridades. Mas o Estado não pode agir assim", defendeu.Para ele, é preciso oferecer oportunidades para a juventude do País. "A sociedade tem mais jovens interessados em crescer com honestidade do que jovens como aqueles que arrastaram uma criança", disse, numa referência ao assassinato brutal do menino João Hélio, no Rio. "É claro que há jovens desgarrados, no caminho da perdição, mas há muita gente pobre e bem encaminhada."



Bem, começo recomendando ao "ser humano" que não siga o presidente — aliás, Renato Janine Ribeiro, acho eu, endossaria frase tão límpida. Lula é mestre em dar exemplos contra a sua própria tese. Alguém questiona que a maioria dos pobres é constituída de honestos? É justamente por isso que qualquer conversa sobre as origens sociais da violência é mero cacoete.



Responsabilidade social - A iniciativa privada, segundo Lula, precisa assumir a responsabilidade de oferecer oportunidades à juventude e contribuir para reduzir a criminalidade. "O que custa para a Volkswagen, por exemplo, contratar 50 jovens? O que custa para o Grupo Gerdau contratar dez jovens em cada uma de suas unidades? Nada", afirmou, ressaltando que seu objetivo é incutir uma idéia na cabeça dos empresários: "Eu também tenho responsabilidade, eu também posso ajudar."



Bobagem! Fosse outro a dizê-lo, a esquerda de plantão compareceria ao debate para dizer que Lula está propondo a privatização dos pobres. À moda do "Adote um Atleta", criemos a campanha "Adote um pobre". No que a responsabilidade pelos atos humanos depende de outros — e só depende em parte —, precisamos é de políticas públicas. E de leis que combatam a impunidade. Aquele assassino dos três franceses foi adotado pela ONG, não é? Não lhe faltou oportunidade, faltou-lhe uma moral. É verdade. Esta se forma num determinado ambiente. O ambiente, no Brasil, estimula a transferência de responsabilidades. Vocês duvidam que o bandido que matou seus protetores alegará em seu favor a infância sofrida?



Reforma tributária - Segurança pública e educação, de acordo com Lula, serão os temas principais do encontro que ele terá com governadores na próxima terça-feira. O presidente reconheceu, porém, que não deixará de falar sobre a reforma tributária.Para ele, o mais importante nessa área é estabelecer mudanças nas regras do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS), o principal tributo estadual. "Reforma tributária é como combate à fome: todo mundo fala dela, mas quase ninguém faz. Nesse caso, a parte dos governos estaduais ainda não foi feita", disse. "Não é possível pensar apenas no que cada Estado vai perder ou ganhar. Se o Brasil ganhar, todos os Estados vão ganhar."



A comparação é uma tolice sem par. O que o governo quer na área é recolher o ICMS no Estado de destino. Em tese, é para acabar com a guerra fiscal. De fato, é para promover uma guerra entre os Estados mais pobres da federação e os mais ricos (como São Paulo e Minas). Não seria uma alteração imediata, mas as divisões já se dariam agora. O tema não tem força de mobilização popular porque as pessoas não sabem como os impostos mexem com suas vidas. Mas pode abrir uma guerra entre as lideranças políticas. A coisa ficaria assim: São Paulo, por exemplo, continuaria a produzir, a atrair mão-de-obra de outros Estados, o que mexe, por exemplo, com demandas na área de saúde, educação e moradia, e depois transferiria impostos para, como direi?, o Brasil que tem frente pro mar.



Produção de biocombustíveis - Lula apontou como prioridade nas relações com os Estados Unidos a parceria para a produção de biocombustíveis e confirmou que esse será o ponto central do encontro que terá na semana que vem com o presidente dos EUA, George W. Bush. "Está provado que o mundo não precisa ficar dependente do petróleo", afirmou.Para tanto, o presidente considera que a Petrobras deve ter papel primordial na construção de um mercado global de etanol. "A Petrobras vai ter que entrar nisso. Precisamos ter um mecanismo regulador para garantir o abastecimento", disse. "Não é possível, por exemplo, fechar um acordo com o Japão e faltar etanol nos postos japoneses porque não houve produção."



Está provado coisa nenhuma. Essa é uma realidade a ser construída. O etanol precisa ser uma alternativa. Ainda não é. E reitero o que já escrevi: o Brasil precisa é tomar cuidado para não cair numa espécie de novo ciclo da monocultura.



Relação com os EUA - Os Estados Unidos foram apontados por Lula como um parceiro estratégico. Para ele, o momento é favorável a isso. "Os EUA cometeram o erro histórico de, durante muito tempo, não darem atenção à América Latina", afirmou."E o Brasil cometeu o erro de ser subserviente durante décadas. Nenhum interlocutor respeita a subserviência." Agora, segundo o presidente, o País está pronto para aprender com os Estados Unidos, mas também para ensinar.


Essa subserviência é uma acusação tola, um delírio. Quando o Brasil foi subserviente? Teria sido quando fez o acordo nuclear com a Alemanha? Quando fez os acordos com o FMI? Ou quando antecipou o pagamento o Fundo? Ou quando elevou o superávit primário além do que era cobrado por essa instituição tida até então como macabra pelo petismo? Esse discurso é uma banalidade, uma besteira. A despeito do formidável crescimento da economia americana, o Brasil responde há dez anos por 1,4% das importações daquele país, como bem lembrou Roberto Abdenur, ex-embaixador brasileiro em Washington. Como escrevi abaixo, o resultado espetacular balança comercial brasileira decorre da valorização formidável das commodities, não da elevação substancial das exportações.
O que impressiona é que ainda hoje se diga algo parecido.

1 Comments:

At 3:22 PM, Blogger olá said...

Os jovens que tem menos de 18 anos e que cometem graves crimes como estrupar, matar, sequestar e etc merecem pagar pelo que fizeram

 

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