quarta-feira, maio 24, 2006

Choque de realidade


O momento que estamos vivendo está tirando do eixo muitos dos atores. O próprio presidente da República recentemente confessou que está mudando algumas de suas crenças a partir do contato que teve com a realidade durante esses quase quatro anos. São muitos os novos ingredientes gerando turbulência: redistribuição de poder incomodando a quem o perdeu; desconhecimento de como operar a máquina por parte dos novos pilotos que precisaram improvisar; decepção destes ao constatarem que realidade não cabia na sua visão ideológica.


É tudo muito novo para quem ganha ou perde poder. Tudo é muito novo e muito rápido. A realidade transforma-se numa velocidade jamais vivenciada. As pessoas e os métodos precisam ser reciclados. Creio que depois das mudanças pós governo federal passado - tecnológicas e estruturais dentre outras - está havendo uma intensa rearrumação das diferentes camadas sociais. Muitas vezes a opção é por ficar à margem da lei, e não raro à margem do formalismo ético. Descompromisso com o espaço público, ruas infestadas de ambulantes, pirataria, tráfico de droga, economia informal, e corrupção desenfreada, são exemplos que saltam aos olhos.


O que está acontecendo? Será reação ao excessivo apetite tributário do Estado? Será uma resposta ao abandono a que a população foi submetida pelo poder público? Parte pode ser debitada na conta das mudanças tecnológicas e processuais nas empresas ao reduzir a necessidade do uso da mão-de-obra? A impunidade serve como alavancador dos crimes contra o patrimonio público?


Essa reação está no "script" da história. Sempre que o custo fica muito alto para qualquer um dos conjuntos de atores, acontece o ajuste. A questão é que os ajustes estão se dando à margem do Estado. É um não ao Estado.


É mais que urgente modernizarmos o Estado, atualizarmos as ideologias e nossos programas de educação. Da mesma forma os cientistas sociais e filósofos brasileiros têm que se debruçar sobre a realidade e propor soluções. Ou nos atualizamos imediatamente para enfrentar as crescentes e velozes mudanças, ou a barbárie se instalará definitivamente no nosso meio.Os sinais estão cada vez mais claros, e é possível que os cidadãos mais esclarecidos se vejam diante da impossibilidade de permanecer no país. Teremos um novo fator forçando a migração: incompatibilidade cultural.