quarta-feira, agosto 16, 2006

O cerco está se fechando

E-mail publicado no Globo online de 14/08/2006. Colaboração de um amigo.

O cerco está se fechando

Recebo um e-mail com o depoimento de Fred D'Orey, dono da Totem, uma das principais grifes de roupa do país:

"Queridos amigos e amigas,

Ontem à noite (sábado) meu carro foi interceptado na Linha Vermelha por um outro veículo com dois caras armados com fuzis. Sem resistir, enquanto os motoristas atrás de mim davam ré, apavorados, entreguei o carro com tudo dentro - pranchas de surfe no rack, bagagem, $, câmeras, documentos e muitos etcs.

É que eu acabava de chegar de uma viagem de duas semanas na Libéria, na África. Vinha do Galeão. 8:30 da noite. O moleque não tinha mais do que 15 anos e parecia ligado, tremendo. Minha vida podia ter terminado ali. Muitas terminam, a gente lê isso todo dia nos jornais e acha que nunca vai acontecer conosco. Só que o cerco está se fechando.

Quando cheguei à patrulha, na verdade um gol caindo aos pedaços, estacionada a uns 300 metros do incidente, os dois policiais foram da maior educação. E educadamente me explicaram que viram o carro descendo o viaduto mas que não poderiam sair do local.

Disseram que não passam de fantoches (foi essa a palavra que usaram).
Explicaram que os equipamentos não funcionam. E que suas armas são infinitamente inferiores às dos bandidos. Enquanto esperava uma patrulha que deveria me levar até a delegacia para dar queixa, e que nunca chegou, ouvi pelo rádio o anúncio de mais três outros roubos de carros na mesma Linha Vermelha. Os dois acabaram confessando que são mais de 80 veículos roubados todos os dias naquela área. 80, todos os dias.

Não tenho raiva daquele adolescente. Nem fico indignado com os policiais. Ambos são vítimas dessa grande tragédia chamada Brasil. Um país rico e que poderia ser tudo, mas que caminha a passos largos para o abismo. Tenho é muito nojo desses políticos safados que há décadas saqueiam o meu Brasil. Que roubam merenda, que roubam ambulância, que roubam sangue, que roubam educação, que roubam saúde, e que roubam segurança. Esses caras estão acabando com o Brasil. Canalhas!

E nós, que trabalhamos e produzimos riqueza e pagamos impostos, estamos condenados a sustentar esses cretinos nas suas contínuas e ridículas reeleições para que continuem a nos roubar ainda mais. Como fazer pra acabar com esse ciclo vicioso de destruição de uma nação? Eu não sei, só sei que tem que acabar.

O Brasil não precisa de fome zero, essa campanha populista de um presidente ignorante e mal intencionado como Lula. O Brasil precisa é de CORRUPÇÃO ZERO. Essa é a única saída.

Se os americanos tinham na Guerra do Vietnã algo por que lutar, os brasileiros têm a luta contra a corrupção. Nós brasileiros tínhamos que deixar de ser frouxos e partir pra cima desses canalhas ladrões - todos eles, do município, do estado, de Brasília - e exigir que trabalhem, que sejam competentes e transparentes. A sociedade tinha que se unir.

Os empresários tinham que se unir. E, se não funcionar a pressão, iniciar uma outra campanha, IMPOSTOS ZERO. Chega de pagar suados tributos para o dinheiro sumir no ralo da corrupção e da incompetência. E para pagar salário de funcionário público incompetente e parasita.

Mas eu não sei como organizar nada disso. Enquanto batalho 12 horas por dia para pagar as contas e fazer meu negócio crescer honestamente, esses vermes montam esquemas para me roubar sem parar. Eles são um câncer. O cerco está se fechando. Tenho medo do que vem por aí. Vocês não?".

quinta-feira, agosto 03, 2006

Mais uma razão para modernizar

Na coluna da Mirian Leitão de 3 de agosto de 2006, no jornal O Globo, o tema é o setor têxtil. Uma afirmação chama a atenção: “Com a informalidade e o câmbio jogando contra, a saída tem sido, novamente, buscar a modernização.”

O que essa afirmação tem de importante? Claro que não é o fato de constatar que a modernização da indústria é um caminho para mantê-la viva. Claro que não, pois nossos empresários e executivos já vêm aplicando tal remédio há décadas. Não é esse o caso. Com as ações a serem implantadas os empresários salvarão a maior parte das empresas e do setor. Mas consequencias negativas ocorrerão em segmentos sociais que dependem desse setor cuja estrutura de produção será alterada.

A grande questão, o desconhecimento ou desinteresse do que ocorre no setor produtivo do país por parte do grande público e do estado. Há um mundo sendo formado cujas leis e desdobramentos futuros são ignorados pela grande maioria dos cidadãos, que fica perplexa a cada novo fenômeno que surge ou que se aprofunda. Alguns exemplos são: crescimento do crime organizado, corrupção desenfreada, desemprego crescente, baixo nível de crescimento econômico e baixo nível de desenvolvimento social. O desconhecimento ou desinteresse assinalado acima vem gerando distorções em toda a sociedade de forma cumulativa, de tal sorte que em algum momento ou haverá uma grande explosão através de choques entre os diversos segmentos criados em tornos de suas crenças e práticas, ou, a institucionalização (?) cínica da convivência razoavelmente pacífica entre esses diversos segmentos.

Os cientistas políticos mais atuantes no Brasil debitam na conta do capitalismo e da economia de mercado, todas as mazelas provenientes do grande sistema em que se transformaram os processos de produção e distribuição de bens e serviços, mas naturalmente que não deixam de usufruir de seus resultados positivos. As universidades são totalmente contaminadas por tais pensamentos esdrúxulos. O mercado produtivo convive com os problemas existentes precificando-os. Mas a pergunta que se impõe é: até quando?

A sociedade precisa compreender que mundo está sendo criado. O estado, mais que qualquer outra das invenções humanas tem que ser revisto e modernizado, para cumprir seu principal papel de possibilitar uma vida com bem estar para os cidadãos, reduzindo seu peso e viabilizando a libertação das forças produtivas da sociedade.